Observa-se bastante dificuldade na regulação de emoções negativas, crenças ruins sobre si mesmo, auto estima fragilizada, estressores ambientais sociais e culturais como vivências traumáticas de bullying, ideal de magreza, crítica de familiares, exposição das mídias sociais.
Todo esse sofrimento e comportamentos disfuncionais cursam com muito isolamento social.
Além dos sintomas emocionais e comportamentais, as pessoas com anorexia nervosa apresentam sintomas de cansaço, tontura, síncope, edema, constipação, lanugo, extremidades frias, amenorreia, arritmia cardíaca, fraturas patológicas e risco maior de convulsões.
CURIOSIDADES HISTÓRICAS SOBRE ANOREXIA
Há vários momentos na literatura teológica relatos de jejum voluntário e inanição auto imposta que era interpretado como uma possessão demoníaca ou até milagre divino.
Tem um historiador americano chamado Rudolph Bell, escritor do Holy Anorexia, descreve 260 santas e beatas na época da idade média, que praticavam duros e longos períodos de jejum religioso.
Ele explica que nesse período, com o advento do cristianismo, ocorreu uma substituição drástica de imagem dos deus obesos e hedonistas da mitologia grega pelos cristos magros, gerando uma influência no comportamento alimentar.
Nesse período, a gula se transformou em um pecado capital e a rejeição de alimentos é considerada uma penitência preferida para alcançar a santidade.
Catarina de Siena (1347-1380) foi uma beata que aos 15 anos, após a morte de sua irmã, passou a comer pouco e ocupar grande parte da sua vida rezando e intensificando práticas de auto flagelação em segredo, entre eles intensos jejuns apesar do seu confessor insistir que não seria a melhor maneira de glorificar Deus.
Ela faleceu cedo, aos 32 anos, por complicações clínicas do jejum severo. Entre ela, outras santas anoréxicas tiveram relevância histórica e umas foram exemplos para outras.
Apenas em 1873 houve a primeira descrição de um médico psiquiatra francês chamado Lasegue e a partir disso outros psiquiatras descreveram a psicopatologia.
Houveram períodos entre o início dos anos 1900 e 1960 que a anorexia era encarada como uma doença puramente orgânica, posteriormente como variante de transtornos mentais como esquizofrenia e transtorno obsessivo. Somente após a década de 60, começaram discussões sobre a anorexia mais próximas dos critérios atuais, última vez revisados em 2013.
QUAIS AS CAUSAS DE ANOREXIA?
As causas são multifatoriais.
Para desenvolver anorexia, é necessario ter algumas características genéticas, bioquímicas, neurológicas e psicológicas, juntas com um contexto sócio cultural ambiental.
Em primeiro lugar, sabe-se que a hereditariedade da anorexia é moderada a alta - em torno de 25-75% para uma pessoa que tem um familiar de primeiro grau que tem anorexia.
A isso, se soma às alterações na regulação da fome homeostática e fome hedônica - que nada mais é do que um sistema que equilibra a necessidade fisiológica de comer um alimento e o prazer em comer.
Pessoas com anorexia nervosa têm a capacidade extra de controle inibitório e capacidade de atrasar as respostas neurológicas de prazer e recompensa com comida - ou seja, não sente tanta falta em sentir prazer com a comida.
Com a redução do peso, ocorrem variações hormonais e da neuroquímicas que reduzem mais ainda o apetite na anorexia.
Também ocorrem mudanças cerebrais estruturais com a perda do peso que contribuem mais ainda para os comportamentos anorexígenos.
Por consequência, os comportamentos anorexígenos pioram a distorção da percepção do alimento, como algo não prazeroso e a fome se torna mais recompensadora.
Os fatores de personalidade também são cruciais para a sustentação da anorexia.
O perfeccionismo, necessidade de controle sobre as coisas, dificuldades com regulação emocional contribuem para a insatisfação corporal e por consequência estado afetivo negativo.
Que por consequência contribui para os comportamentos anorexígenos que modificam o corpo e mente e reforçam novamente os comportamentos anorexígenos.
Como se não bastasse, o ambiente também contribui como causa da anorexia através da cognição, emoções e comportamentos. A cultura do corpo ideal magro, como ocorre muito nas mídias sociais e até em ambientes familiares, contribuem para uma sensação constante de insatisfação e inadequação.
É como uma bola de neve que só piora.
Felizmente, com a recuperação do peso corporal, tratamento psicológico e psiquiátrico, essas alterações neurológicas e emocionais podem ser reversíveis.
É por isso que os elementos mais importantes do tratamento da anorexia são a realimentação, acompanhamento nutricional, psicoterapia e acompanhamento psiquiátrico e endocrinológico!