Anorexia: O que é, Causas e Curiosidades Históricas - Dra. Natalia Belsuzarri
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Anorexia: O que é, Causas e Curiosidades Históricas

Anorexia é um transtorno que causa peso corporal baixo em homens, mulheres, crianças e adolescentes.

Cursa com baixa ingestão calórica por baixa quantidade ingerida, baixa variedade de alimentos, longos períodos de jejum, evitação de alimentos com muitas calorias e gordura.

As pessoas com anorexia comem pouco também por comportamentos na mesa de separação de alimentos do prato, demora em ingerir, contagem minuciosa da quantidade, desconfiança sobre a preparação, incômodo em comer perto de outras pessoas e necessidade de comer escondido ou cuspir comida.
Medo de ganhar peso é um aspecto central na anorexia nervosa.
Esse medo gera comportamentos alimentares disfuncionais voltados para perda do peso ou manutenção de um peso baixo. A distorção de auto imagem costuma ser gritante e dificulta o reconhecimento das formas corporais, fazendo que a pessoa com anorexia nervosa se sinta gorda apesar do baixo peso. Preocupação excessiva com peso e formas corporais é outro elemento que faz perdurar o baixo peso. Ocorre através de comportamentos de checagem de peso e formas, busca constante por informações nutricionais dos alimentos e métodos de emagrecimento, evitação de espelho e de roupas que evidenciem o corpo.

Do ponto de vista psicológico há fatores de personalidade como perfeccionismo, necessidade de controle, insegurança e rigidez cognitiva.


Observa-se bastante dificuldade na regulação de emoções negativas, crenças ruins sobre si mesmo, auto estima fragilizada, estressores ambientais sociais e culturais como vivências traumáticas de bullying, ideal de magreza, crítica de familiares, exposição das mídias sociais.

Todo esse sofrimento e comportamentos disfuncionais cursam com muito isolamento social.

Além dos sintomas emocionais e comportamentais, as pessoas com anorexia nervosa apresentam sintomas de cansaço, tontura, síncope, edema, constipação, lanugo, extremidades frias, amenorreia, arritmia cardíaca, fraturas patológicas e risco maior de convulsões.

CURIOSIDADES HISTÓRICAS SOBRE ANOREXIA


Há vários momentos na literatura teológica relatos de jejum voluntário e inanição auto imposta que era interpretado como uma possessão demoníaca ou até milagre divino.

Tem um historiador americano chamado Rudolph Bell, escritor do Holy Anorexia, descreve 260 santas e beatas na época da idade média, que praticavam duros e longos períodos de jejum religioso.
Ele explica que nesse período, com o advento do cristianismo, ocorreu uma substituição drástica de imagem dos deus obesos e hedonistas da mitologia grega pelos cristos magros, gerando uma influência no comportamento alimentar.

Nesse período, a gula se transformou em um pecado capital e a rejeição de alimentos é considerada uma penitência preferida para alcançar a santidade. Catarina de Siena (1347-1380) foi uma beata que aos 15 anos, após a morte de sua irmã, passou a comer pouco e ocupar grande parte da sua vida rezando e intensificando práticas de auto flagelação em segredo, entre eles intensos jejuns apesar do seu confessor insistir que não seria a melhor maneira de glorificar Deus. Ela faleceu cedo, aos 32 anos, por complicações clínicas do jejum severo. Entre ela, outras santas anoréxicas tiveram relevância histórica e umas foram exemplos para outras.

Apenas em 1873 houve a primeira descrição de um médico psiquiatra francês chamado Lasegue e a partir disso outros psiquiatras descreveram a psicopatologia. Houveram períodos entre o início dos anos 1900 e 1960 que a anorexia era encarada como uma doença puramente orgânica, posteriormente como variante de transtornos mentais como esquizofrenia e transtorno obsessivo. Somente após a década de 60, começaram discussões sobre a anorexia mais próximas dos critérios atuais, última vez revisados em 2013.


QUAIS AS CAUSAS DE ANOREXIA?

As causas são multifatoriais.
Para desenvolver anorexia, é necessario ter algumas características genéticas, bioquímicas, neurológicas e psicológicas, juntas com um contexto sócio cultural ambiental.
Em primeiro lugar, sabe-se que a hereditariedade da anorexia é moderada a alta - em torno de 25-75% para uma pessoa que tem um familiar de primeiro grau que tem anorexia.
A isso, se soma às alterações na regulação da fome homeostática e fome hedônica - que nada mais é do que um sistema que equilibra a necessidade fisiológica de comer um alimento e o prazer em comer.
Pessoas com anorexia nervosa têm a capacidade extra de controle inibitório e capacidade de atrasar as respostas neurológicas de prazer e recompensa com comida - ou seja, não sente tanta falta em sentir prazer com a comida.

Com a redução do peso, ocorrem variações hormonais e da neuroquímicas que reduzem mais ainda o apetite na anorexia.

Também ocorrem mudanças cerebrais estruturais com a perda do peso que contribuem mais ainda para os comportamentos anorexígenos. Por consequência, os comportamentos anorexígenos pioram a distorção da percepção do alimento, como algo não prazeroso e a fome se torna mais recompensadora.

Os fatores de personalidade também são cruciais para a sustentação da anorexia.
O perfeccionismo, necessidade de controle sobre as coisas, dificuldades com regulação emocional contribuem para a insatisfação corporal e por consequência estado afetivo negativo.

Que por consequência contribui para os comportamentos anorexígenos que modificam o corpo e mente e reforçam novamente os comportamentos anorexígenos. Como se não bastasse, o ambiente também contribui como causa da anorexia através da cognição, emoções e comportamentos. A cultura do corpo ideal magro, como ocorre muito nas mídias sociais e até em ambientes familiares, contribuem para uma sensação constante de insatisfação e inadequação.

É como uma bola de neve que só piora.
Felizmente, com a recuperação do peso corporal, tratamento psicológico e psiquiátrico, essas alterações neurológicas e emocionais podem ser reversíveis. É por isso que os elementos mais importantes do tratamento da anorexia são a realimentação, acompanhamento nutricional, psicoterapia e acompanhamento psiquiátrico e endocrinológico!